top of page

Dia Internacional da Mulher: dia de rememorar e continuar a luta

Por: Patricia Carneiro de Paula[1]


No dia 08 de março se celebra o Dia Internacional da Mulher, instituído oficialmente pela Organização das Nações Unidas em 1975, tratando-se de uma data que, atualmente, é tida como comemorativa, mas que visa marcar a luta histórica de mulheres por igualdade de direitos sociais, econômicos, trabalhistas e políticos.


Contudo, muito embora não se possa ignorar a importância das homenagens recebidas, como reconhecimento dessa luta, não há como deixar de pontuar que além da necessidade de se fazer memória dessa luta histórica, deve ser ressaltado, também, que a igualdade de direitos entre os gêneros ainda não foi alcançada.


Atualmente, ainda há grande discrepância entre direitos de homens e mulheres, além do que, a atual situação vivida em decorrência da pandemia de Covid-19 escancarou a desigualdade social e de gênero, sobretudo no Brasil.


As homenagens recebidas que, sobretudo, ressaltam as qualidades e elogios pelos atributos de sua feminilidade como “delicadeza”, “sensibilidade”, “emotiva”, “carinhosa”, “cuidadora” etc, quase sempre conectados com seus aspectos físicos, não beneficiam a luta histórica e nem mesmo respeitam as características e escolhas de cada uma, e como não é possível nessa oportunidade discorrer sobre todos eles, é preciso enfatizar ao menos um, e dizer que por sermos seres destinados ao “cuidado”, suportamos um peso invisível que nos impede de alcançar os objetivos almejados, e as pessoas não se dão conta nem mesmo das consequências da atribuição externa desse e de outros papéis considerados como atributos femininos e que muitas vezes funcionam como amarras de perpetuação da diferença entre os gêneros, já que sequer reconhecem a individualidade delas.


Em âmbito eclesial a postura também não é diferente. As mulheres ainda são relegadas as funções secundárias de organização e de cuidado, mas nunca podem ser tituladas protagonistas das ações que sustentam uma comunidade e até mesmo a Igreja, e não há ações que promovam sua capacitação ou seu empoderamento para que assumam tal protagonismo de forma autônoma e confiante.


Em geral, esse cuidado que abrange planejar, organizar, tomar algumas decisões entre outros, vem acompanhado de um discurso limitante ao considerar que “eles já ajudam”, ou ainda, que hoje já existe uma “abertura” eclesial ou social. Na realidade, tudo isso serve apenas para reconhecer seus “atributos” como dever, impostos por uma sociedade que destina papéis às pessoas, sem considerar sua individualidade, ressaltando-se que o dia é internacional da “mulher”, ou seja, da pessoa humana que não é apenas sujeito de deveres, mas também de direitos, e que, no caso, conforme a data de hoje, é um sujeito que anseia por direitos iguais.

Mas não é só.


As mulheres, sobretudo nesse momento de pandemia, ainda são as que mais sofrem com a violência doméstica, com o desemprego, com a falta de assistência social e de saúde adequados, com a subtração temporária da rede de apoio construída nas comunidades em decorrência do isolamento, com as consequentes doenças mentais em razão da situação vivida, com o acúmulo de atribuições pelo home office, com a diferenciação salarial entre os gêneros, com o preconceito de raça e seus efeitos, etc.


Enfim, mesmo nessa situação, prevalece um discurso inconsistente, que despreza, ignora e zomba de mulheres que, no caso, quando buscam igualdade de direitos, estão buscando, por consequência, por uma sociedade mais justa, a fim de que se assegure uma vida digna à toda humanidade.


Carecemos ainda de políticas públicas que atendam as necessidades e peculiaridades do gênero feminino, e de apoio da sociedade, inclusive da Igreja, na busca de ações que tenham efetividade na vida das mulheres.


Diante desse breve cenário, indaga-se: Será que a questão da necessidade da formação das consciências não deveria levar em conta também a situação das mulheres e a necessidade de mudanças? A quem interessa atribuir papéis às mulheres, sobretudo de cuidado, ou ainda ressaltar atributos de feminilidade definidos sem uma perspectiva efetiva de gênero? Por acaso, somente rezar para cessar as inúmeras situações de violências contra mulheres é suficiente? O que o grupo PHAES, ou outras leitoras e leitores pensam de efetivo em relação às mulheres, pessoa humana que integra o título do grupo? Será que pensar e trabalhar essas questões é papel apenas das mulheres? Por que não se discute a questão a respeito dos direitos reprodutivos das mulheres e a questão relativa ao aborto?


Não se pode olvidar a dificuldade que muitas pessoas tem em enfrentar esses questionamentos, mas silenciar sobre eles ou ignorá-los também é uma forma de violência. Destaco que não se está a desconsiderar a importância dos elementos da fé cristã e nem mesmo daquilo que constitui a Igreja, mas apenas enfatizar que dentro desses elementos a mulher, pessoa humana, também está inserida, e não pode, por consequência, ser desconsiderada.


Talvez, o que não tenha sido apreendido até o momento é que lutar por igualdade e promovê-la, bem como buscar ações efetivas que assegurem igualdade entre os gêneros, não é algo que se possa desprezar, mas salutar para a sobrevivência de toda a humanidade, de modo que não pode ser apenas uma luta de mulheres, mas de todos os gêneros humanos.


Parabéns às mulheres que continuam lutando e que mesmo diante de todas as dificuldades ainda seguem firmes. Hoje é mais uma celebração da importância dessa data histórica. E se serve de incentivo para vocês, eu digo que para mim sempre serviu dizer em nome de todas: Nós não vamos parar!

[1] Mestranda e Graduada em Teologia (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP). Graduada em Direito e Especialista em Direito Processual Civil (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU, São Paulo). Membro do Grupo de Pesquisa PHAES – Pessoa Humana, Antropologia, Ética e Sexualidade.

6 Comments


vilmarilima
Mar 11, 2021

Excelente reflexão e ousados questionamentos, que nos faz pensar e concordar com as suas colocações . Sinto ser necessário, no momento, falar com mais firmeza e assertividade , coisa que vc fez com primor . Obgda por nós fazer ousar. bjs

Like

camargoroseli2016
Mar 09, 2021

Lindas palavras!! Parabéns..Muito obrigada..👏👏👏👏


Like

Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo
Mar 09, 2021

Boa reflexão, parabéns, por nos ajudar a pensar nessa temática tão gritante que o direito e o respeito a todas as mulheres.

Like
patriciacdepaula
Mar 09, 2021
Replying to

Obrigada, Reinaldo. E que venham muitas outras reflexões pois só assim mudaremos o contexto atual.

Like

a.l.boccato
a.l.boccato
Mar 09, 2021

Texto muito bem escrito e preciso! A nossa amiga Patrícia nos convida a rompermos com um paradigma excludente e assimilarmos uma visão interativa/integrativa de humanidade. Parabéns pelo escrito!

Like

Alex de Sousa
Alex de Sousa
Mar 09, 2021

"Não se pode olvidar a dificuldade que muitas pessoas tem em enfrentar esses questionamentos, mas silenciar sobre eles ou ignorá-los também é uma forma de violência"


Destaco essa fala da Patrícia, para dizer que a nossa grande luta é contra a indiferença que gera a dor do outro, que gera exclusão e desigualdade... Enquanto formos insensíveis a identidade e sofrimento do nosso próximo, estaremos longe de sermos verdadeiramente humanos!!!


Parabéns Mulheres pelo seu dia!

Que se celebre hoje e todo dia!

Louvar pelas conquistas, mas lutar sempre, para que um dia se alcance sonhos!

Like
Faça parte da nossa lista de emails

Obrigado pelo envio!

  • Facebook
  • Twitter
  • YouTube
  • Instagram

© 2020 por Grupo PHAES. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page