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INSPIRAÇÃO: MULHERES DO ONTEM E DO HOJE

Lúcia Eliza Ferreira da Silva[1]


“Sem estrelas para alimentar os nossos sonhos,

nós aprendíamos a ser pobres” (COUTO, 2015 p. 15)


Ter pontos inspiradores é uma dádiva! Pois, ao reconhecer passos já dados e conquistas atingidas, o ânimo para prosseguir é iluminado pela originalidade da ascendência de mulheres que não se contentaram em se ajustarem aos cenários que lhe foram determinados. Essa singularidade é vibrante porque é terminantemente preciso na condução de outros iguais que estão à margem para o protagonismo de si.


Em meio a obscuridade dos dramas que as mulheres são disciplinadas a digerir, sendo estes estruturais no aspecto social (p. ex. mercado de trabalho, salários, postos de gerencia), no ambiente familiar (p. ex. dupla jornada, violência doméstica, abandono de parceiros) e nas situações de assédio e preconceito nos campos que ocupam, sobrevêm vozes ardentes que inflamam ouvidos e existências.


Essa referência perpassa pelas falas de mulheres presentes na academia, na política, nos campos digitais à vida das mulheres nas vielas de nossas favelas, na labuta diária e solitária, nos campos “do interior do interior” do país, no “rebolar” para pagar as contas do mês e educar os filhos, e quando não, ainda precisa aprender a conviver com a dor da perda de um dos entes – filhos, companheiros, etc., vitimado pela violência e na busca por justiça. Essas múltiplas lutas inspiram. São luzeiros na escuridão, à espera e no indicar de dias melhores.


Entretanto, no atual cenário se observa movimentos de idealizações retrógadas que por vezes deslegitimam conquistas e vozes de outras mulheres denunciativas acerca de estruturas de poder. Bebendo em Virginia Woolf, uma das precursoras do feminismo contemporâneo, se pode dizer no re-encantamento à posição de imagem do feminino como àquela totalmente altruísta, de pureza angelical e lisonja (WOOLF, 2020, p. 12). Liberdade, opinião, franqueza e espaço para falar sobre suas relações, moral, prazer, etc.; são reduzidos pela formulação de idealismos com diversos interesses.


Desse modo, celebrando o Dia Internacional da Mulher, é o momento de reafirmação de uma história de luta e conquistas, como alertar consciências frente à novos desafios que assolam a realidade. Fazer as mulheres “sujeitos ativos da mudança” (RIBEIRO, 2018, p. 135) é protagonizar suas narrativas, empregar ambientais mais diversos e reestabelecer direitos. Também lutar contra formas de violência, opressão e silenciamento configurados no fundo do poço do anonimato “nas favelas, nas periferias, nas prisões, nos manicômios, na prostituição, na ‘cozinha da madame’, nas frentes de trabalho” (GONZALES, 2020, p. 110) perscrutando um horizonte, mais humanizante, integrador e reverberado por mulheres.


Referências

COUTO, Mia. Mulheres de cinzas: as areias do imperador: uma trilogia moçambicana, livro 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos/ (orgs Flavia Rios e Márcia Lima). Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro?. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Tradução de Denise Bottmann. Porto Alegre: L&PM, 2020.

[1]Mestranda e graduada em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membra do Grupo de Pesquisa PHAES – Pessoa Humana, Antropologia, Ética e Sexualidade.

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